Tuesday 16 August 2011

O SENHOR DOM MIGUEL I, E A SENHORA DOM MARIA II.
COMPARAÇÕES.—REFLEXÕES.—DESENGANO.
Mentis, e mentis com o damnado fim de amargurar a existencia do infeliz Principe, que chora no exilio os negros crimes de que vós e os vossos o fizeram victima.—O Snr. D. Miguel não queria perseguir os seus amigos mas perseguiu-os o estupido bando de scelerados, a que vós pertenceis.—Lembrai-vos de que escreveis no Porto, senhores do «Portugal» e que no Porto, no tempo em que vós dominaveis, foram cacetados, indistinctamente, liberaes e realistas—ainda mais, no Porto foram cacetadas as proprias auctoridades constituidas em nome do Snr. D. Miguel.—É aqui bem publico e notorio que o corregedor do crime foi cacetado, no largo do Carmo, pelos soldados do 12, e como lhes gritasse «Senhores, eu sou o corregedor!»—«É por isso mesmo!»—lhes tornavam elles—redobrando com nova furia as cacetadas.—É aqui bem sabido que n'esse tempo bastavam tres testemunhas das de quartilho de vinho—para se levar um homem á forca;—bastava alcunhar qualquer realista de malhado, para o vêr martyrisar por essas ruas;—bastava calumniar alguém, chamando-lhe pedreiro-livre, para o vêr gemer n'uma cadêa.—Podiamos aqui escrever um longo capitulo d'historia—que vós fingis ignorar—mas poupamo-nos a esse trabalho, porque fallamos no meio d'uma cidade onde todos sabem quantos realistas gemeram nas cadêas por vinganças particulares—quantos caloteiros se fingiam realistas para perseguir os seus crédores—quantos ladrões se infeitavam com o tope azul e vermelho, para atterrarem aquelles a quem tinham roubado.—Era n'esse tempo que o vosso chefe d'então e vosso chefe d'agora—o scelerado fradalhão Luiz................. levava a tiro de pistola as mulheres que se não dobravam aos seus desenfreados appetites;—era n'esse tempo que elle, o malvado pedréca, arranjava empregos para os paes, a troco da deshonra das filhas;—era, finalmente n'esse tempo, que muitos bandoleiros se acobertavam com o nome d'amigos do Snr. D. Miguel, para o tornarem odioso, e para augmentarem, como augmentaram, o partido liberal.—E ainda hoje continuaes a acobertar os vossos crimes com o nome do infeliz Principe, trazendo-o para a discussão a todo o proposito; e ainda hoje continuaes a perseguição aos seus melhores e mais leaes amigos.—Aqui estamos nós—nós que fomos emballados na affeição mais pura á pessoa do Snr. D. Miguel—nós, que, pensando servil-o, temos constantemente sacrificado o nosso futuro e arriscado a nossa vida,—e que hoje, desenganados, só pedimos a Deus que o Augusto Exilado não caia de novo nas vossas mãos—porque seria um instrumento de perseguição e de morte para metade dos filhos d'esta terra;—nós, em fim, que podemos dar testemunho da vossa ferocidade. E porque nos perseguistes vós?... Porque não pudémos deixar-nos roubar, sem que gritassemos aqui-d'el-rei sobre os ladrões, denunciando-os ao publico, de viva-voz e pela imprensa.

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